sexta-feira, 10 de abril de 2009

O que faz um ergonomista?

Do ponto de vista do Ergonomista, tudo começa com a avaliação da tarefa. Quer seja uma tarefa de trabalho ou uma tarefa de lazer, é preciso ter um conhecimento dos requerimentos necessários para completar a tarefa.

Para explicar melhor, vou dar um exemplo de uma tarefa que quase toda a gente já executou pelo menos uma vez: mudar um pneu furado. O primeiro passo no desenvolvimento da intervenção ergonómica nesta tarefa é parti-la em vários passos distintos que possam ser convenientemente descritos. Por exemplo, vamos fazer uma lista de tarefas individuais envolvidas na mudança de um pneu. Quantas conseguimos definir?

  1. procurar o macaco
  2. remover o macaco do local onde estava armazenado
  3. colocar o macaco debaixo do carro
  4. levantar o carro com o macaco
  5. procurar a chave desaparafusadora
  6. remover a chave do local onde estava armazenada
  7. colocar a chave em posição para desapertar a porca
  8. desapertar a porca…

Podemos definir uns 50 passos individuais para completar esta simples tarefa.

Uma vez identificados todos os passos, é necessário tomar decisões relativamente a modificações que sejam necessárias efectuar. Uma questão importante para o ergonomista é: “A tarefa deve ser executada por um humano ou por uma máquina?” Se estamos a mudar o pneu do nosso carro, a resposta é obvia - vamos fazê-lo manualmente. No entanto, se estivessemos numa linha de montagem e a nossa tarefa fosse mudar pneus o dia todo, poderia haver alguns passos da tarefa que seriam executados mais rapidamente por uma máquina. Só como exemplo, um mecânico provavelmente usaria uma desaparafusadora eléctrica.

Se a tarefa é executada por um humano, a questão seguinte envolve a resposta humana. Por outras palavras, “Como é que o ser humano responde às necessidades da tarefa?” Tal como já foi dito anteriormente, realizar a tarefa uma vez (ex: mudar um pneu) está provavelmente dentro das capacidades de qualquer pessoa. No entanto, repetir essa mesma tarefa várias centenas e milhares de vezes todos os dias pode causar alguns problemas físicos. Existem requerimentos de força ou coordenação na tarefa? Se sim, o que irá acontecer ao ser humano com esta repetitividade?

Se o ser humano consegue aguentar os requisitos da tarefa facilmente, então outra questão pode ser colocada: “Será uma situação optimal?” Por outras palavras, será que algumas modificações podem tornar a tarefa mais simples ou menos stressante? Será que uma chave malhor ajudaria a remover as porcas com mais facilidade? Ou será que um tipo diferente de chave permitiria uma pessoa com artrite executar a mesma tarefa? Se for este o caso, o ergonomista pode trabalhar em conjunto com o fabricante da chave desaparafusadora para assegurar que a pega é desenhada adequadamente, que o peso da ferramenta é aceitável, e que os níveis de vibração estão dentro de limites toleráveis.

Por outro lado, se o ser humano não consegue aguentar os requisitos impostos pela tarefa, o ergonomista pode perguntar: Poderemos seleccionar e formar os trabalhadores de forma a que apenas sejam escolhidos para esta tarefa aqueles que têm capacidade para a tolerar? Que características específicas são necessárias para que alguém possa executar esta tarefa? Se a tarefa envolve a necessidade de fazer força será que alguém com artrite reumatóide nas mãos, ou com síndrome do túnel cárpico pode executar a tarefa?

Obviamente que isto poderia ser considerado discriminação. Seleccionar indivíduos que sejam capazes de efectuar determinada tarefa requer um conhecimento claro de todos os passos envolvidos. De facto, em alguns países é ilegal não contratar alguém só porque não consegue executar as “funçõs essenciais” de uma tarefa “com ou sem adaptação”.

Partir as tarefas em pequenas funções essenciais e proporcionar adaptações razoáveis a pessoas com algum tipo de incapacidade também faz parte do trabalho do ergonomista.

Texto retirado de: http://www.ivogomes.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário